quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Capoeira - Maculelê: Dança e Luta


Existe em Santo Amaro da Purificação, Bahia, uma dança, um jogo de bastões remanescentes dos antigos índios cucumbis. É o maculelê. Esta "dança de porrete" tem origem Afro-indígina, pois foi trazida dos negros da África para cá e aqui foi mesclada com alguma coisa da cultura dos índios que aqui já viviam.

A característica principal desta dança é a batida dos porretes uns contra os outros em determinados trechos da música que é cantada acompanhada pela forte batida do atabaque. Esta batida é feita quando, no final de cada frase da música os dois dançarinos cruzam os porretes batendo-os dois a dois.

Os passos da dança se assemelham muito aos do frevo pernambucano, são saltos, agachamentos, cruzadas de pernas, etc. As batidas não cobrem apenas os intervalos do canto, elas dão ritmo fundamental para a execução de muitos trejeitos de corpo dos dançarinos.

O maculelê tem muitos traços marcados que se assemelham a outras danças tradicionais do Brasil como o Moçambique de São Paulo, a Cana-verde de Vassouras-RJ, o Bate-pau de Mato Grosso, o Tudundun do Pará, o Frevo de Pernambuco, etc.

Se formos olhar pelo lado do conceito de que maculelê é a dança do canavial, teremos um outro conceito que diria ser esta uma dança que os escravos praticavam no meio dos canaviais, com cepos de canas nas mãos para extravasar todo o ódio que sentiam pelas atrocidades dos feitores. Eles diziam que era dança, mas na verdade era uma forma de luta contra os horrores da escravidão e do cativeiro. Os cepos de cana substituíam as armas que eles não podiam ter e/ou pedaços de pau que por ventura encontrassem na hora.

Enquanto "brincavam" com os cepos de cana no meio do canavial, os negros cantavam músicas que evidenciavam o ódio. Porém, eles as cantavam nos dialetos que trouxeram da África para que os feitores não entendessem o sentido das palavras. Assim como a "brincadeira de Angola" camuflou a periculosidade dos movimentos da capoeira, a dança do maculelê também era uma maneira de esconder os perigos das porretadas desta dança. Uma outra versão diz que para se safarem das chibatadas dos feitores e capatazes dos engenhos, os negros dos canaviais se defendiam com pedaços de pau e facões.

Aos golpes e investidas dos feitores contra os negros, estes se defendiam com largas cruzadas de pernas e fortes porretadas que atingiam principalmente a cabeça ou as pernas dos feitores de acordo com o abaixar e levantar do negro com os porretes em punho. Além desta defesa, os negros pulavam de um lado pro outro dificultando o assédio do feitor. Para as lutas travadas durante o dia, os negros treinavam durante a noite nos terreiros das senzalas com paus em chama que retiravam das fogueiras, trazendo ainda mais perigo para o agressor.

Atualmente a dança do maculelê é muito praticada para ser admirada. É parte certa na apresentação de grupos de capoeira e em eventos realizados como formatura, encontros, batizados, etc. É fundamental se preservar a dança do maculelê, ensina-la com destreza e capacidade aos alunos para que eles possam eventualmente fazer belas apresentações.

É maravilhoso podermos ver um maculelê bem feito, dançado por belas garotas vestidas a caráter ou por rapazes negros, fortes e raçudos. O maculelê pode ser feito com porretes de pau, facões ou facas, mas, alguns grupos praticam o maculelê com tochas de fogo ou "tições" retirados na hora de uma fogueira que também fica no meio da roda junto com os dançarinos. É um espetáculo perigoso, pois corre-se o risco de se queimar. Porém, é uma das coisas mais bonitas de se ver. Exige muita habilidade dos dançarinos.

"Sou eu, sou eu ... sou eu maculelê, sou eu ..." " Ô ... boa noite pra quem é de boa noite Ô ... bom dia prá quem é bom dia A benção meu papai a benção Maculelê é o rei da valentia ..."

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Mestre Pastinha


Vicente Joaquim Ferreira Pastinha, foi um dos principais Mestres de Capoeira da história. Mais conhecido por Mestre Pastinha, nascido em 1889 dizia não ter aprendido a Capoeira em escola, mas "com a sorte". Afinal, foi o destino o responsável pela iniciação do pequeno Pastinha no jogo, ainda garoto.
A vida iria dar ao moleque Pastinha a oportunidade de um aprendizado que marcaria todos os anos da sua longa existência. Em depoimento prestado no ano de 1967, no Museu da Imagem e do Som, Mestre Pastinha relatou a história da sua vida: "Quando eu tinha uns dez anos, eu era franzininho, um outro menino mais taludo do que eu tornou-se meu rival. Era só eu sair para a rua, ir na venda fazer compra, por exemplo, e a gente se pegava em briga. Só sei que acabava apanhando dele, sempre. Então eu ia chorar escondido de vergonha e de tristeza."
"Um dia, da janela de sua casa, um velho africano assistiu a uma briga da gente. Vem cá, meu filho, ele me disse, vendo que eu chorava de raiva depois de apanhar. Você não pode com ele, sabe, porque ele é maior e tem mais idade. O tempo que você perde empinando raia vem aqui no meu cazuá que vou lhe ensinar coisa de muita valia. Foi isso que o velho me disse e eu fui".
Começou então a formação do Mestre que dedicaria sua vida à transferência do legado da Cultura Africana a muitas gerações. Segundo ele, a partir deste momento, o aprendizado se dava a cada dia. Além das técnicas, muito mais lhe foi ensinado por Benedito, o africano seu professor. "Ele costumava dizer: não provoque menino. Vai botando devagarinho ele sabedor do que você sabe (…). Na última vez que o menino me atacou, fiz ele sabedor com um só golpe do que eu era capaz. E acabou-se meu rival, o menino ficou até meu amigo de admiração e respeito."
Foi na atividade do ensino da Capoeira que Pastinha se distinguiu. Ao longo dos anos, a competência maior foi demonstrada no seu talento como pensador sobre o jogo da Capoeira e na capacidade de comunicar-se. Os conceitos do Mestre Pastinha formaram seguidores em todo Brasil. A originalidade do método de ensino, a prática do jogo enquanto expressão artística formaram uma escola que privilegia o trabalho físico e mental para que o talento se expanda em criatividade. Foi o maior propagador da Capoeira Angola, modalidade "tradicional" do esporte no Brasil.
...não provoque menino, vai botando devagarinho ele sabedor do que você sabe...
Em 1941, fundou a primeira escola de Capoeira legalizada pelo governo baiano, o Centro Esportivo de Capoeira Angola (CECA), no Largo do Pelourinho, na Bahia. Hoje, o local que era a sede de sua academia é um restaurante do Senai.
Em 1966, integrou a comitiva brasileira ao primeiro Festival Mundial de Arte Negra no Senegal, e foi um dos destaques do evento. Contra a violência, o Mestre Pastinha transformou a Capoeira em arte. Em 1965, publicou o livro Capoeira Angola, em que defendia a natureza desportista e não-violenta do jogo.
Entre seus alunos estão Mestres como João Grande, João Pequeno, Curió, Bola Sete (Presidente da Associação Brasileira de Capoeira Angola), entre muitos outros que ainda estão em plena atividade. Sua escola ganhou notoriedade com o tempo, frequentada por personalidades como Jorge Amado, Mário Cravo e Carybé, cantada por Caetano Veloso no disco Transa (1972). Apesar da fama, o "velho Mestre" terminou seus dias esquecido. Expulso do Pelourinho em 1973 pela prefeitura, sofreu dois derrames seguidos, que o deixaram cego e indefeso.
Mestre Pastinha no ano de 1981 aos 93 anos. Durante décadas dedicou-se ao ensino da Capoeira. Mesmo completamente cego, não deixava seus discípulos. E continua vivo nos Capoeiras, nas rodas, nas cantigas, no jogo.
"Tudo o que eu penso da Capoeira, um dia escrevi naquele quadro que está na porta da Academia. Em cima, só estas três palavras: Angola, Capoeira, mãe. E embaixo, o pensamento:
"Mandinga de escravo em ânsia de liberdade, seu princípio não tem método e seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista..."


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Olha o que ele ganhou!

O ator Jackie Chan visita a sede da Embraer, em São José dos Campos, no interior de São Paulo, nesta sexta-feira, 3. Jackie Chan é a aposta da Embraer para vender aviões no mercado asiático. Considerado o maior ator oriental de todos os tempos, Chan Kong-Sang, o Dragão Chan, ou simplesmente Jackie Chan, acaba de comprar um avião da Embraer, o jato Legacy 650, que é fabricado em São José dos Campos. O objetivo da empresa é multiplicar os lucros de sua sede na China.
  

Mestre Bimba


Mestre Bimba

Mestre Bimba


O Pai da Regional

De 1890 a 1937, a Capoeira foi crime previsto pelo Código Penal da República. O simples exercício na rua, dava até 6 meses de prisão. Nesse ambiente tão hostil, as escolas de Capoeira sobreviviam clandestinas nos subúrbios.
Foi para reverter este quadro que o baiano Manoel dos Reis Machado, um angoleiro forte e valente conhecido como Mestre Bimba, inventou uma nova Capoeira.
Teve o cuidado de tirar a palavra do nome da academia que fundou em 1932 em Salvador, o "Centro de Cultura Física e Luta Regional". 
...a capoeira é para todos, mas nem todos são para capoeira...(Mestre Bimba)
Filho de um campeão de batuque, uma espécie de luta-livre comum na Bahia do séc XIX, para fugir de qualquer pista que lembrasse a origem marginalizada da Capoeira, mudou alguns movimentos e eliminou a malícia das posturas do capoeirista, colocando-o em pé.
Criou um código de ética rigido que exigia até higiene, estabeleceu o uniforme branco e se meteu até na vida privada dos alunos.
Para treinar com Mestre Bimba, era preciso provar que estava trabalhando ou mostrar o boletim do colégio. O resultado foi que daí, a Capoeira começou a ganhar alunos da classe média branca. Com tudo isso Mestre Bimba deu ares atléticos ao jogo e atraiu as mulheres, até então excluídas das rodas. E com toda essa dinâmica a Capoeira também se tornou uma eficiente defesa pessoal.
Regulamento da Academia de Mestre Bimba
Este regulamento foi elaborado para Você e em seu benefício.
Lembre-se que você irá praticar EDUCAÇÃO FÍSICA e adquirir preparo físico básico, mola mestra para a prática eficiente para qualquer esporte. O Mestre BIMBA e seus colegas mais velhos só tem um desejo: torná-lo melhor no prazo mais curto.

1. Deixe de fumar. É proibido fumar durante os treinos.
2. Deixe de beber. O uso do álcool prejudica o metabolismo muscular.
3. Evite demonstrar a seus amigos de fora da “roda” de capoeira os seus progressos. Lembre-se de que a surpresa é a melhor aliada numa luta.
4. Evite conversa durante o treino. Você esta pagando o tempo que passa na academia e, observando os outros lutadores, aprenderá mais.
5. Procure gingar sempre.
6. Pratique diariamente os exercícios fundamentais.
7. Não tenha medo de se aproximar do seu oponente. Quanto mais próximo se mantiver, melhor aprenderá.
8. Conserve o corpo relaxado.
9. É melhor apanhar na “roda” que na "rua”.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Capoeirando 2012


Cordão de Ouro Sorocaba: Mestre Decânio

Cordão de Ouro Sorocaba: Mestre Decânio: Ângelo Augusto Decânio Filho, Mestre Decânio, o mais "idoso" dos discípulos de Mestre Bimba ainda vivos, a maior autoridade no mundo ...

Mestre Decânio





Ângelo Augusto Decânio Filho, Mestre Decânio, o mais "idoso" dos discípulos de Mestre Bimba ainda vivos, a maior autoridade no mundo sobre a Capoeira Regional de Mestre Bimba. Médico de profissão, esteve ao lado do Mestre desde 1938, dispensando-lhe atenção filial, cuidados médicos, assessoramento em assuntos relacionados com a administração da Academia, estudo de novos golpes e contragolpes, e o estabelecimento de normas e regras destinadas ao aperfeiçoamento do ensino da luta.

Em decorrência deste relacionamento, tinha o privilégio de ser o único detentor dos segredos e das manhas do Mestre. Escreveu vários livros sobre Capoeira, agrupados na Coleção São Salomão, editada por ele próprio. Sua obra é citada (por Mestre Damião) como “a verdadeira Bíblia da Capoeira”. Privar de sua companhia é sempre um grande prazer.